Cearense precisa gastar 53,23% do salário mínimo para comprar itens básicos

O valor dos produtos do gênero alimentício que compõem a cesta básica em Fortaleza tem sofrido um aumento considerável nos últimos meses. Isso causou um impacto muito grande no bolso dos cearenses e contribuiu para o agravamento da crise econômica. De acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica, promovida pelo Dieese (Departamento Internacional de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o consumidor cearense precisa gastar 53,23% do salário mínimo para comprar os itens básicos para sobrevivência, o que impacta diretamente nas famílias de baixa renda. Entre as capitais nordestinas, as maiores altas foram registradas em Fortaleza (3,92%).

O valor da cesta básica de Fortaleza chegou aos R$ 541,61 em junho deste ano e o mês de julho já registrou mais um aumento, chegando a R$ 562,82 segundo o Dieese. De acordo com o Departamento Municipal de Proteção e Defesa dos Direitos do Consumidor (Procon Fortaleza), o mês de agosto já apresentou uma variação de até 203,93% em itens que são consultados mensalmente. Entre os produtos que apresentaram maior variação de preço estão: Cenoura, laranja, farinha de milho, esponja de aço, esponja multiuso.

Para a micro e pequena empreendedora Carmem Paiva, esse disparo dos preços vem complicando muito a vida do consumidor, principalmente de quem trabalha de forma autônoma. “Hoje dói muito ir ao supermercado e voltar pra casa com pouca coisa, gastando bem mais que antes. A situação está muito difícil e me faz pensar naqueles que perderam seus empregos. Para conseguir seguir em frente fui obrigada a abrir mão de muita coisa do dia a dia, só comprando o que é extremamente necessário, substituindo alguns produtos por outros e procurando os preços mais acessíveis” relata.

A realidade é a mesma para a contabilista Valdiana Saraiva, divorciada, mãe de duas filhas. Ela relata sobre a impossibilidade de manter o padrão de vida e até mesmo a rotina com o aumento do valor de produtos tão necessários. “A compra do supermercado teve que ser reduzida, embora mesmo diminuindo a quantidade dos produtos, o preço a pagar seja ainda mais caro. Não dá mais pra escolher produto pela marca, precisa ser o mais em conta. E não foi só no supermercado que tudo ficou mais caro, pra quem possui carro, quando junta o aumento das compras com o aumento do combustível, a conta não bate e se torna necessário abrir mão de alguma coisa para conseguir viver dignamente”.

Especialistas concordam que a pandemia prejudicou a produção e funcionamento das empresas, levando à inflação sofrida pelos brasileiros

O economista e contabilista Marcos Sá, explica que nos últimos meses os brasileiros têm passado por alguns fenômenos, é observado o aumento do Índice Geral de Preços do Mercado (IGPM), Índice Nacional de Custo de Construção (INCC) e Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esses índices estão acima da média dos outros anos, um reflexo da pandemia, onde negócios ficaram por um determinado período parados. Muitas empresas não conseguiram dar continuidade na sua produção, o que gerou escassez de alguns produtos e desabastecimento em alguns atacados e varejos. Essa situação ainda não normalizou, alguns setores foram mais afetados do que outros e seguem na tentativa de equilibrar produção e finanças.

Para a professora de ciências econômicas da Universidade Federal do Ceará (UFC) Alessandra Benevides, a questão da alta da alimentação, principalmente sobre os gêneros alimentícios, reflete diretamente no empobrecimento da população, especialmente da população mais pobre. “Esse fenômeno acontece porque as famílias mais pobres gastam um percentual muito maior das suas rendas com alimentação, se comparado com as famílias mais ricas. Os estudos mostram que no mínimo 26% da renda é gasto com alimentação, na classe alta esse percentual é de 7%. É natural que o aumento dos preços dos gêneros alimentícios leve a situações mais degradantes para as famílias menos favorecidas, além disso, eles não têm como fazer poupança, pensando em suprir momentos de crise”.

“O IPCA dos últimos 12 meses tá em torno de 8,99%. O aumento do custo da cesta básica no mês de julho de 3,72%, se deve a escassez dos produtos. É necessário levar em consideração também o fenômeno da seca no Sul, Sudeste, Centro-oeste, o que prejudica a agricultura e acaba onerando o preço desses produtos. Temos ainda a questão da exportação, com o dólar a R$ 5,17 o mercado internacional se torna mais atrativo para o exportador e isso acaba refletindo no preço do mercado interno. Isso diminui a quantidade de produtos que são disponibilizados em consequência das exportações que são feitas”, conclui o economista.

Professora e economista concordam que os choques climáticos, redução do período chuvoso, estiagem com queimadas, reservatórios de água com baixa capacidade, deprimem a oferta dos gêneros alimentícios. Os especialistas chegam à conclusão que tudo isso reflete diretamente na inflação. “A pandemia veio para piorar a situação da economia que já se encontrava debilitada. As perspectivas para o final do ano não são boas. A agricultura familiar não tem recebido a devida atenção, crédito necessário”, relata Alessandra.

 

 

Fonte: https://www.opiniaoce.com.br/noticia/cearense-precisa-gastar-53-23-do-salario-minimo-para-comprar-itens-basicos

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